[História de Sucesso] Hilda de Araújo Domingos
Hilda de Araújo Domingos é a mais velha entre quatro irmãos, de uma família simples, humilde e batalhadora. Já morou em São Paulo e na Bahia, em busca de melhores condições financeiras para alcançar a tão sonhada qualidade de vida. Mas é a Paraíba o seu melhor lugar de moradia e felicidade.
A paraibana começou a ter os primeiros sintomas da dificuldade para caminhar desde muito nova. Mas, por ter recebido um diagnóstico que até hoje não teve muita explicação, ela demorou a aceitar sua condição. Só em meados de seus 30 anos que ela tomou coragem e deixou a vida lhe sorrir, andando pela primeira vez em uma cadeira de rodas.
A história de Hilda envolve aceitação e reconhecimento da autoestima. Além disso, traz o amor, que ora o perde, ora o reencontra, e que tornou-se o principal sentimento que dá sentido a sua vida. Trazendo-lhe a Bianca, sua filha de três anos.
História de Hilda de Araújo Domingos
Hilda de Araújo Domingos tem 41 anos e mora em Juru-PB. Quando ainda era muito nova saiu da cidade natal em busca de melhores condições financeiras, e de recursos médicos para sua condição, que começava a apresentar os primeiros sinais.
Na época, Hilda tinha apenas uma irmã e foi com a família para São Paulo. “Por não haver emprego em minha cidade, sertão da Paraíba, meu pai resolveu procurar em São Paulo. O segundo motivo foi porque começou a aparecer os primeiros sintomas da minha doença. Aqui não havia tratamento nem condições financeiras para isso”, relembra Hilda.
Na mesma época em que apresentou os primeiros sintomas da dificuldade em manter o corpo firme, Hilda foi em diferentes médicos. Entretanto, nenhum deles chegou a descobrir qual era o seu real diagnóstico. Assim, ela teve que usar aparelhos auxiliares para a locomoção nos primeiros anos do seu problema de saúde.
Já com 15 anos, Hilda foi morar com seu pai na Bahia. Passou dois anos e novamente teve que voltar para Paraíba, porque sua vó havia adoecido. Depois disso, ela nunca mais saiu da sua cidade de origem.
Quando completou 18 anos, a saúde de Hilda já não estava nada bem. Na mesma época, os pais se separaram, e seu pai acabou indo embora. Naquele período ela já tinha mais dois irmãos. “Éramos eu com 18 anos, minha irmã de 15 anos, além dos meus irmãos mais novos com oito e seis anos. Meu pai foi embora e nunca mais deu notícias. Passou mais de 10 anos sem falar nada. Um dia, apenas nos telefonou. Mas o contato que temos é pouco. Minha mãe que sempre nos sustentou, mesmo sem ter estudo e emprego”, conta ela.
O agravamento da doença
Dos 17 aos 18 anos, Hilda de Araújo já não caminhava mais. Por conta disso também não saia de casa. “Fui perdendo os movimentos, fiquei em uma situação que não andava mais. Só ficava dentro de casa. Passei muitos anos sem andar na rua, sem saber o que era isso. Andava dentro de casa segurando nas coisas, pois tinha medo de cair e porque não tinha forças. Me sentia fraca e cansada”, relata Hilda.
Nesse período, Hilda teve depressão. Mas, mesmo com as dificuldades, ela não aceitava utilizar uma cadeira de rodas para se locomover. Era difícil aceitar a sua condição. O que reforçava sua rotina de se manter apenas em casa. “Foi uma época muito difícil da minha vida”.
Eu olhava todo mundo andando e eu estava sozinha. Tive ansiedade, insônia, sofri muito na época. O que eu conseguia fazer em um ano, no outro já não dava mais. Era difícil para mim. Para conseguir andar, precisava do auxílio de outras pessoas. Não tinha autonomia para nada”, relata.
Os anos passaram e a vida de Hilda seguiu em frente, enfrentando os obstáculos da sua condição. Até que o amor começou a aparecer em sua vida. Um sentimento passageiro, que chegou e foi embora brevemente. Mas que lhe deu coragem para finalmente melhorar sua qualidade de vida e despertar seu maior desejo: autonomia e liberdade para viver.
O seu primeiro grande conflito com as limitações
Quando tinha por volta dos seus 30 anos, Hilda conheceu um homem em que foi seu parceiro durante cinco anos. O sentimento reforçava uma das suas grandes vontades: construir uma família. “Conheci ele e casamos. Ficamos juntos em uma casa. Só que ele tinha muita vontade de sair e eu não podia ir. Então começaram os conflitos”, relembra.
Por conta da dificuldade de caminhar e pela falta de auxilio de equipamentos para locomoção, Hilda acabou separando do marido. “Acabamos nos separando. Como não tinha uma cadeira de rodas, terminamos. Não dava para continuar porque ele queria viver. Eu apenas concordei”, diz Hilda.
Mais uma vez, a tristeza batia na porta de Hilda de Araújo. “Me senti abandonada, triste. Pensava que não teria mais ninguém e que jamais conseguiria construir uma vida novamente”, relembra.
Até que o sentimento de tristeza se tornou em força e determinação. Pela primeira vez em todo sua vida, Hilda de Araújo resolveu mudar completamente sua situação. Era hora de aceitar sua condição e buscar alternativas para ganhar a tão sonhada autonomia e liberdade de ir e vir. Foi quando ela decidiu adquirir uma cadeira de rodas.
O despertar para uma vida com autonomia
Segundo Hilda, na época ela já estava com pretensão de comprar uma cadeira de rodas. “Quando terminamos, eu já estava me preparando para comprar a cadeira, sonhando com isso”. Foi então que depois de juntar uma certa quantia em dinheiro e de muito pesquisar na internet com a ajuda do irmão, Hilda decide comprar uma cadeira de rodas.
“Eu nunca tinha aceitado a possibilidade de ter uma cadeira de rodas. Eu andava me segurando nas coisas, mas jamais aceitava essa possibilidade. Assim que enxerguei que ter uma cadeira de rodas motorizada era possível, tive coragem”, relata.
Com a ajuda do irmão, Hilda encontrou o equipamento ideal e mudou completamente o modo como vivia. Saiu da rotina de anos, em que ficava dentro de casa.
A escolha do equipamento assistivo
“A cadeira de rodas foi extremamente importante em minha vida”
Depois de pesquisar o melhor equipamento que satisfizesse sua condição física, Hilda de Araújo optou pela cadeira de rodas motorizada. “Nunca tinha visto uma cadeira de rodas desse tipo pessoalmente. Depois de pesquisar, achei a que queria para mim. Meu objetivo era poder sair para rua com ela e andar em qualquer terreno”, conta.
Assim que a compra foi efetivada, a ansiedade pela nova qualidade vida começava a aparecer. “Fiquei muito ansiosa e com receio se iria funcionar. Pensava se poderia utilizar onde quisesse”, relembra.
Depois de alguns dias, a motorizada chegou. Foi a primeira vez, depois de muitos anos, em que Hilda de Araújo andou na rua. “Depois de muitos anos eu senti o vento. Que eu andei sem ter alguém me segurando. Foi uma sensação maravilhosa”, ressalta.
Liberdade de ir vir com a cadeira de rodas motorizada
Como era a primeira vez em que Hilda andava em uma cadeira de rodas, passou por diferentes “treinamentos” junto do irmão, que lhe ajudava no que fosse preciso. “Passei dias treinando. Meu irmão me levou para andar na rua, com obstáculos para treinar a coordenação”, relembra.
Hilda ainda se lembra das primeiras vezes em que foi para rua com a cadeira de rodas motorizada, e tudo o que aquela nova experiência lhe proporcionava. “A primeira vez que sai na rua todo mundo começou a olhar para mim, pois quase ninguém conhecia esse tipo de cadeira de rodas. Perguntavam como funcionava. Até hoje ainda tem gente que pergunta”.
Em seguida, Hilda começou a pegar prática para manusear a cadeira de rodas motorizada e, como ela mesmo relata, mudou completamente sua vida. “Comecei a sair, ir em barzinhos, sorveterias, pizzarias. Comecei a viver. Viver de verdade. Como é maravilhoso sentir esse gosto”, afirma.
Um novo amor que bate à porta
Depois que a vida começou a ganhar outro sentido, Hilda teve uma nova surpresa: o amor novamente bateu em sua porta.
Na mesma época em que adquiriu a cadeira de rodas, ela conheceu uma pessoa e começou a namorar. O que automaticamente lhe fez acender o desejo de realizar outro grande sonho. “Já que eu tinha minha cadeira de rodas e mais autonomia, decidi realizar outro sonho bem mais aventureiro, que era ter um filho”, conta.
Hilda conheceu seu atual marido através da prima do seu ex. Um dia falou com ele por telefone na casa da amiga e nunca mais parou. O rapaz morava na cidade vizinha. “Contei minha história para ele. Ele disse que não se incomodava. Marcamos um encontro e quando o conheci ele disse que não queria só amizade”, relembra.
Hilda de Araújo e o marido possuem 12 anos de diferença. Mas o sentimento, que no início lhe assustava, acabou ficando mais forte e concretizando sua gravidez. “Falei para ele que queria engravidar e que, se ele quisesse, seria o pai. Caso contrário, que fosse embora, pois eu queria realizar esse sonho”, conta.
A realização dos sonhos
O casal está junto até hoje e são pais da Bianca, que tem três anos e já faz aniversário em abril de 2019. “Tive minha filha, ela é a coisa mais linda da minha vida”, ressalta Hilda, cheia de gratidão.
Lembrando de todos as mudanças da rotina e as experiência que passou, Hilda garante que tudo só foi possível porque tomou coragem e aceitou sua condição, entendendo que na cadeira de rodas seria mais fácil viver. “Tudo isso eu consegui porque eu adquiri a minha cadeira de rodas. Hoje eu saio. Se eu quero ir em uma sorveteria eu vou. Vou no médico. Vou visitar amigos. Vou em praças. Graças a cadeira eu tive coragem de investir no segundo sonho, de engravidar e ter minha filha”.
A rotina de Hilda é totalmente envolvida com a filha. Curtindo cada momento e participando de cada fase e evolução da menina. “Seria difícil sem conseguir me movimentar e ter independência. A cadeira de rodas é extremamente importante em minha vida”, finaliza.
Hilda não pôde terminar os estudos devido a dificuldade para locomoção, mas diz que gostaria de concluir, já que não estudou tudo o que almejava. Quem sabe essa não seja mais uma experiência por qual Hilda ainda passará, já que vontade e determinação não lhe faltam mais.
Eu graças à Deus sou bem assistido, não posso reclamar de nada não, se eu tenho um problema, tenho que aceitar sem murmurar porque Deus na sua misiricordia infinita, jamais abandonará seu filho.
Abs.