Esportes, lazer e turismo

220 km de travessia a remo e a participação da Freedom com a cadeira de rodas Off Road

Já pensou em sair do conforto de casa para passar alguns dias remando em águas agitadas? Mas seguinte, a única possibilidade de voltar, é pelas águas mesmo. E, somente, a remar.

Moacir Rauber, Oguener Tissot, Antonio Schuster e Wagner Rauber tiveram essa ideia. E a Freedom topou a parada. Em janeiro de 2013, eles passaram oito dias remando pela Lagoa dos Patos, na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Foram 220 km percorridos.

Com personalidades, idades e condições físicas distintas, eles deixaram as diferenças de lado e cumpriram o desafio. Wagner Rauber, na época com 17 anos, morava na cidade para estudar e já praticava o esporte de remo. Oguener Tissot é técnico da Academia Remo Tissot e já realizava um de seus projetos que, inclusive, era patrocinado pela Freedom, o Remando Contra a Maré. Antonio Shuster tinha 59 anos e também praticava a atividade, além de trabalhar como gerente industrial da Freedom naquele ano. E Moacir Rauber, que possui deficiência física e utiliza cadeira de rodas.

Para essa travessia, a Freedom Veículos Elétricos LTDA teve participação significativa. Foi desenvolvida uma cadeira de rodas OFF ROAD, que foi acoplada junto ao barco a remo de Moacir Rauber para que tivesse como se locomover nas paradas de descanso ou para desfrutar da paisagem. Siga a leitura e saiba tudo sobre essa aventura!

Remo adaptado

Moacir sempre gostou de esportes. Depois do acidente de carro que o deixou em cadeira de rodas, ele começou a buscar atividades alternativas para que pudesse seguir praticando exercícios físicos.

Após se mudar para a cidade de Florianópolis, em Santa Catarina, ele começou a ter contato com o remo adaptado.


Imagem: Rastro Selvagem

Moacir Rauber foi atleta paralímpico de remo. Ele foi esportista da seleção brasileira nessa modalidade por quatro anos participando de dois campeonatos mundiais, em 2004 na Espanha e em 2006 na Inglaterra.

Em 2010, foi morar na cidade de Pelotas e, juntamente com Oguener Tissot, no Clube Náutico Gaúcho, voltou a praticar ativamente esse esporte.

Foi na Academia Remo Tissot que seguiu mantendo a rotina e a prática esportiva que, para ele, proporciona uma grande qualidade de vida. Nesse período também, que surgiu a ideia de realizar a travessia pela Lagoa dos Patos.

Remar é Preciso! Viver é Diversidade!

Em abril de 2012 já começavam os preparativos e todo planejamento para a realização da Expedição “Remar é Preciso! Viver é Diversidade!”, que surgiu de uma conversa informal quando todos estavam na Academia Remo Tissot. Para saber mais dessa história, nós conversamos com Moacir Rauber.

Foi quase um ano de planejamento, testes, remadas pelo Arroio Pelotas, preparo físico e visitas à Lagoa dos Patos, para então, ser feita a escolha do local e data da travessia. Tudo isso foi uma prévia para o que viria a ser feito na Costa Leste dessa lagoa, no trecho que separa Mostardas de Pelotas. Foram 220 km remados por oito dias.

Mas eles não estavam totalmente sozinhos. “Teve todo um planejamento. Nós iríamos por água, mas tinha uma equipe por terra para levar os mantimentos. Nos nossos barcos, nós levávamos suprimentos para um dia extra, se por acaso nós não chegássemos no ponto estipulado, onde a equipe por terra estaria nos esperando com as barracas e o acampamento, nós poderíamos permanecer um dia sem manter esse contato”, explica Moacir Rauber.


Imagem: Rastro Selvagem

Eles estavam acompanhados da equipe Rastro Selvagem que os esperavam no local determinado com todo acampamento e abrigo para passar a noite. Eles ainda fizeram o registro da Expedição em imagens e vídeos.

Durante os 8 dias de travessia, eles passaram por águas turbulentas, ventos fortes, mas também por águas calmas e cristalinas. Algumas dificuldades, desafios e superações. Tanto com os fatores impostos pela situação, como também os pessoais. Cada um, com sua individualidade, empenhada para em coletividade superar os desafios.

Primeiro dia

O primeiro dia começou com empolgação. Disposição e ansiedade faziam parte daquele momento e de cada um que iria atravessar aquela lagoa, que estava bem a frente, pronta para ser desvendada. “O programa era sair as seis da manhã para começar a remar e só parar umas 11 horas da manhã para almoçar. Acamparíamos em algum lugar para comer e as três da tarde recomeçaríamos, para não ter que remar no período de sol mais quente e forte. Como era horário de verão, até umas oito ou nove horas da noite nós chegaríamos aos 40 km”, explica Moacir.

Mesmo com tanto planejamento, imprevistos sempre acontecem. “Primeiro dia, ok. Colocamos os barcos na água as seis da manhã e começamos a nossa remada. Até as 10 horas da manhã estava tudo certo. Resolvemos encostar para almoçar porque já tínhamos feito 22 km. Paramos e esquecemos de olhar o clima. Nós estávamos seguindo um planejamento mas, ao mesmo tempo, falhamos ao não ter tido a capacidade de ter percebido o ambiente externo”, conta Moacir.

Com o pensamento de nunca sair do que foi planejado, eles pararam no ponto programado para fazer a refeição e descansar. Mas, quando se deram conta, havia acontecido uma mudança no ambiente. “Nós optamos por fazer o acampamento naquele ponto porque estava no programa. Só que enquanto nós acampávamos, o vento levantou de forma tão violenta que não havia mais como remar. Aquilo que era uma lagoa tranquila, de repente viraram ondas. Realmente não dava para remar. Ficamos lá, presos, sem para onde ir”, relata Moacir.

Com as mudanças no clima, eles foram obrigados a pensar em alternativas. Afinal, não poderiam passar sozinhos já na primeira noite da Expedição. “De repente alguém deu a ideia de usar a cadeira de rodas off road feita pela Freedom, para carregar os barcos. Eu fiquei deitado no chão porque era a minha cadeira, os outros colocaram os barcos nela e atravessaram uns 1500 metros de banhado. Cruzamos uma península, até o lado onde a água estava mais tranquila. Só que o nosso planejamento de chegar nove horas da noite no ponto de encontro, foi por água abaixo”, conta o rapaz.

Feito os procedimentos para superar o primeiro obstáculo encontrado, eles continuaram a remar. Mas os fortes acontecimentos não tinham parado por aí. O que tinha sido planejado durante oito meses, estava saindo completamente diferente do imaginado.

Os horários programados tinham saído da rota. Eles conseguiram completar os primeiros 40 km somente tarde daquela noite. “Chegamos quase meia noite no local. Estávamos muito cansados. Se alguém tivesse oferecido a possibilidade de irmos para casa, nós teríamos ido. Mas a única forma de levar os barcos novamente para Pelotas era remando. Os equipamentos tinham sido levados por um caminhão até o ponto de largada”, conta Moacir.


Imagem: Rastro Selvagem

Mas desistir passou rápido pelo pensamento desses aventureiros. Outro dia estava por vir e com isso novas possibilidades. Eles decidiram seguir a remada, porém, sem a rigidez do planejamento que, a partir daquele momento, poderia ser alterado quando preciso. “No outro dia começamos a olhar nossos mapas, conversamos com o pessoal da equipe de terra. Percebemos que, em vez de fazer 40 km, nós já tínhamos feito 50 km. Ficamos felizes demais. Recomeçamos a remar já era quase nove horas da manhã. Mudamos a nossa estratégia, não mais com o compromisso de começar seis da manhã e com aquela rigidez do primeiro plano. Optamos por ser mais flexíveis e começou a fluir”, relata Moacir.

Os próximos dias seguiram bem. Alguns obstáculos voltaram a aparecer, porém, a partir das dificuldades, eles se mantiveram cada vez mais unidos. Sem pensar mais na possível desistência, eles começaram a aproveitar a travessia. Paisagens, pássaros, conversas e desfrutar o caminho começou a fazer parte do roteiro. “E entrou a ideia de curtir o caminho. O que desde o início era pensado, de que fosse uma aventura segura, divertida e desafiante. A partir daí começamos a desfrutar e ver as paisagens, tirar fotos. Assim engrenou até o fim”, conta o atleta.

Cadeira de rodas Off Road Freedom

Para que a realização da Expedição “Remar é Preciso! Viver é Diversidade!” fosse executada com sucesso, a Freedom Veículos Elétricos LTDA teve grande participação. Afinal, utilizar uma cadeira de rodas manual em terrenos muito irregulares, pode acarretar em possíveis complicações. Em praias e banhados, mais ainda.

Pensando nisso e em todo o trajeto por terra que poderia ser feito, foi preciso idealizar uma cadeira de rodas adaptada para que Moacir Rauber pudesse sair do barco e se deslocar junto com a equipe de forma independente.


Imagem: Rastro Selvagem

Sendo assim, a Freedom apoiou essa travessia desenvolvendo uma Cadeira de Rodas adaptada Off Road. Nesse equipamento foram adaptados rodas largas, visando superar terra, areia e demais possíveis bloqueios que pudessem aparecer pelo caminho.

Além disso, a cadeira de rodas foi desenvolvida para ser acoplada junto ao barco a remo de Moacir Rauber, de maneira que fosse facilmente transportada por ele durante a travessia pela lagoa.

A conclusão

A travessia não foi apenas um desafio esportivo, mas sim uma realização pessoal de cada um que topou passar oito dias remando por águas que não estavam acostumados na modalidade. “A maior parte das pessoas com quem nós conversávamos achava que não íamos conseguir, que não iria dar certo, que não iria funcionar. Nós fizemos todo o planejamento e tínhamos a convicção de que iríamos conseguir”, conta Moacir.


Imagem: Rastro Selvagem

Eles conseguiram. Mesmo com o cansaço e os obstáculos que apareceram, venceram os 220 km de águas e tiraram disso muitas lições e ensinamentos, assim como Moacir Rauber esclarece. “Em todo esse período de preparação e de realização, houve momentos muito desafiantes. Tivemos que ter a maturidade de mudar o planejamento, que no primeiro dia nós não conseguimos. Mas isso nos ensinou que nós deveríamos ter um plano para poder modificar o plano. Os desafios aparecem e a natureza de cada um também fica visível, fica exposta. E mesmo nos momentos mais difíceis, sempre apareceu o melhor de cada um. Talvez isso tenha sido um dos grandes aprendizados”.

Se moldando e se adaptando a realidade e aos resultados que apareciam durante a realização da travessia, a ideia saiu do papel tendo significados e sentidos diferentes para cada um dos quatro rapazes. No fundo, ninguém acata uma ideia sem pensar no que aquilo pode representar para si. No caso deles, o significado pessoal estava presente para que o coletivo fosse se transformando no sucesso da Expedição.

“Todos nós poderíamos ter ficado em nossas casas, tranquilos. Mas nós nos propusemos a fazer e a cumprir o desafio. Primeiro pelo prazer de avançar por uma região desconhecida. Conhecer essas partes da lagoa com uma visão diferente ou com uma ferramenta diferente, que era o barco. A sensação de que eu sou capaz, de fazer algo que é desafiador, isso acho que não era só para mim, mas para todos. E foi divertido pelas pessoas, foi divertido pela atividade e foi seguro, ao mesmo tempo que foi um desafio. Reuniu essas qualidades humanas que nós temos de muitas vezes nos motivarmos para algo, e isso é uma decisão interna de cada um. O que motiva a fazer determinada atividade, que sentido isso tem para mim”, esclarece Moacir Rauber.


Imagem: Rastro Selvagem

Superação

O êxito foi bem mais do que a conclusão do trajeto. Juntar pessoas tão diferentes entre si e fazer com que isso desse o suporte necessário para que cada um seguisse em frente, mesmo que com suas limitações individuais, foi o grande sucesso dos 220 km percorridos de barco a remo.

A Expedição “Remar é Preciso! Viver é Diversidade!”, é um exemplo de superação do ser humano. Ainda mais quando se trata de pessoas com deficiência física. A condição de Moacir Rauber não o impediu de seguir a vida e projetar uma carreira. O esporte foi uma alternativa que deu certo e o fez chegar longe. A travessia provou que independente das limitações, cada um pode e deve tentar fazer o que gosta. Com adaptações e o recurso de tecnologias assistivas, tudo é sim, possível.

“Até hoje, foi a maior aventura que eu fiz na vida. Para mim, era um desafio pessoal. Não que a gente precise provar para si mesmo. Mas eu achava que poderia ser uma aventura bacana porque seria um desafio, mas que também seria divertido e seguro. Essa experiência ainda significa muito para mim, no sentido de que sempre que eu me lembro dela, penso que eu posso fazer tudo aquilo que eu quiser, independentemente da minha condição física”, Moacir Rauber.


Imagem: Rastro Selvagem

Ainda há muito o que falar sobre as práticas de remo realizadas por pessoas com deficiência física. Siga nos acompanhando para ficar por dentro da continuação dos projetos desse esporte em Pelotas, que a Freedom tem participação significativa para promover a ação sócio esportiva na cidade.

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